UMA VIAGEM DA SINAPSE AO SÍMBOLO
O fotógrafo Leonardo Kossoy reflete sobre a origem dos símbolos e das linguagens, evidenciando a longa história de cada palavra, de cada imagem – de uma primitiva sinapse até o símbolo, e a evolução deste no uso e em seu significado. O artista observa que “a decisão de conferir um entendimento objetivo a cada símbolo é parte das necessidades práticas que a sociedade humana propõe, mas talvez seja preciso que a arte volte a conferir complexidade aos símbolos, reintegrando-os à sua complexidade original”. Em grande parte, símbolos são elementos que estabelecem correspondência entre a sua forma e o que representam. Evocam intuições, ideias ou sentimentos, e podem ser universais. Em nosso cotidiano, indo além do ambiente em que vivemos, somos vítimas de uma invasão de símbolos, signos e ícones oriundos das novas mídias, que, apesar dos algoritmos seletivos, extrapolam as barreiras de acessibilidade.
Como seria difícil conviver com esses símbolos sem tentar entender a sua gênese, o artista desenvolve uma arqueologia específica, um desbravamento que volta a enriquece-los com a história complexa de sua viagem desde uma simples sinapse até as sofisticadas linguagens contemporâneas. Leonardo Kossoy representa esse percurso nas novas séries elaboradas para a Bienal de Curitiba. O artista (e toda a humanidade) lida com símbolos, significados organizados em linguagens compreensíveis. Desta forma, temos a linguagem escrita e falada, a linguagem do corpo, entre outras.
Em “Fake News”, “Memória“ e “Desejo”, aqui expostas, observamos um foco sobre facetas distintas de seu olhar nômade a captar contextos de seu cotidiano e reduzi-los a signos isolados de um todo – uma tentativa de se desvincular do vício do universo semiótico. Em sua obra, Kossoy se apropria de partes isoladas do corpo humano, de documentos resguardados, da organicidade de troncos e raízes que podem ser interpretados como uma alusão à existência humana, independentemente de um caráter subjetivo.
A série “Objetos/Subjetos“ é composta de objetos do cotidiano plenamente isolados de suas funções originais ou de qualquer relação pessoal com os mesmos. Os agrupamentos remetem à atuação e conquistas de um arqueólogo pela conquista do desbravamento, realizado em um percurso repleto de surpresas ao se deparar com fósseis, inscrições rupestres e objetos inusitados. Os objetos são resgatados como relíquias dignas de um gabinete de curiosidade. Extraídos de sua função original, eles exercem o papel de novos seres autônomos imersos em frescor, livres de associações impostas. Essa autonomia da Imagem e dos Objetos cria um grande respiro a ser explorado e vivenciado.
Na obra “Fake News”, onde círculos aleatórios delimitam e omitem uma superfície por eles demarcados sobre jornal, vê-se o desvio bem-sucedido de uma comunicação escrita usual para a visual. A ironia invade a obra de Leonardo Kossoy.
Com ideias aproximadas do evolucionismo de Darwin, o artista considera que os símbolos e as linguagens evoluem a partir de erros, distorções, variações e acidentes.
Por isso mesmo Leonardo Kossoy propõe uma observação atenta destes símbolos antes que eles, mais uma vez, sejam transformados pelo abismo do tempo.